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sábado, 31 de março de 2012

Primaverinfância

Escalávamos as árvores e permanecíamos escondidos entre as folhas e os frutos, equilibrando nos galhos mais firmes. Você segurando o saco pardo de pão camuflando o vinho barato roubado, eu os cigarros e fósforos surrupiados do meu avô cego.



Não me lembro das promessas, muito menos dos sonhos. Seu nome era qual mesmo? Bem me recordo você era a filha do Seu Arthur, morta pela cocaína tempos atrás.


O quê me dilacera é lembrar como descíamos dos galhos tranquilamente. Eliminávamos as provas da nossa rebeldia e éramos novamente crianças que tomavam leite quente antes de dormir.

Hoje me afogo estatelado nas folhas secas e confundo-me às calçadas rachadas e imundas.

Não nos importávamos com a vizinha gritando por socorro enquanto o marido alcoólatra a espancava durante a noite. Dançávamos no asfalto sob as luzes das ambulâncias e viaturas policiais.


Matheus Torres

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