por Ana Esther e Efraim Oscar Silva.
A professora Ana Cláudia Viegas, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), participou de mesa redonda no anfiteatro da Reitoria da UFSCar, na manhã de 25 de maio de 2011. Chamada “A prosa brasileira hoje: modos de ler”, a mesa redonda fez parte do I Colóquio UFSCar/Unesp de Literatura Brasileira Contemporânea. Leia a entrevista exclusiva que Ana Viegas concedeu ao Fim de Noite.
F.D.N. – É ruim atribuir rótulos, mas os escritores acabam sendo agrupados, em termos de história literária, em determinados períodos ou tendências. A prosa brasileira contemporânea já pode ser definida de alguma forma?
Criaram-se os rótulos “Geração 90” e “Geração 00”, por exemplo, que, ao mesmo tempo em que servem como estratégia de marketing para os novos autores, procuram traçar pontos de identificação entre os componentes de cada um desses grupos, e de diferenciação entre um grupo e outro. Como qualquer classificação, não deve ser pensada de forma fechada e absoluta. Diante de uma imensa diversidade da prosa atual, podemos traçar algumas tendências, mas sempre pensando que nenhuma delas define por si só a produção contemporânea.
F.D.N. – Quais as marcas características do romance e do conto que estão sendo publicados hoje?
Podemos mapear algumas marcas na prosa brasileira contemporânea, mas sempre – repito – tendo o cuidado de não tomá-las como definidoras do que está sendo publicado hoje. Eu destacaria, por exemplo, o uso de uma primeira pessoa que mistura as categorias de autor e narrador, com um trânsito entre autobiografia e ficção; um “novo realismo”, que busca mais um “efeito de real” do que uma representação mimética da realidade; uma escrita bastante sucinta e fragmentada, acelerando ainda mais certas conquistas modernistas; uma escrita que vai na contramão dessa aceleração crescente da atualidade, retomando um estilo mais clássico, num certo retorno ao sublime.
Um outro aspecto a destacar é a o uso da internet como ferramenta de circulação do literário, de variadas formas: espaço de experimentação, divulgação de textos, contato direto com leitores, trocas entre os escritores, debates, etc.
F.D.N. – A sua fala versou sobre personagens de romances de Chico Buarque, Sérgio Sant’Anna e Marcelo Mirisola. Em que medida essas personagens refletem ou problematizam o atual momento vivido pela sociedade brasileira?
Escolhi personagens-escritores que nos permitem problematizar aspectos do campo literário na atualidade: relações entre o escritor e o mercado, e entre a alta cultura e a cultura de massa, a formação cultural do escritor mediada pela tevê, questões sobre autoria.
F.D.N. – Explique-nos melhor duas afirmações suas: “Houve a transformação do escritor numa figura midiática e fantasmática” e “O livro não é mais o produto final do trabalho do escritor.”
Se o escritor moderno já foi definido como um “ser de papel” (Roland Barthes), hoje temos um contato bem frequente com o corpo, a voz, a imagem dos autores contemporâneos. O autor lê trechos de seus livros em eventos, fala sobre sua obra em entrevistas, de modo que a figura autoral vai se construindo em paralelo à obra. O papel do escritor ultrapassa os limites do texto, integrando-se a um cenário literário e cultural, onde ele atua.
Uma questão interessante e bem característica da atualidade é o trânsito dos textos por diferentes medias: o livro, o cinema, a internet, a tevê, a história em quadrinhos. Ou seja, a publicação em livro vem deixando de ser a última finalidade do texto escrito, passando a funcionar como uma das etapas da circulação desse texto.