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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Música do Dia

Elevator Music - Beck, por Filipe Lemos.

Prata e Ouro

Neste momento eu vago por toda essa poeira que dá o toque final na cidade devastada. É impressionante ver do que fomos capazes. Os mares secaram, os ventos se acalmaram. Arranhásseis desmoronaram, ruíram até o pó e seus esqueletos serão cobertos pela ferrugem... e eu temo estar morrendo por dificuldades. Dificuldades causadas pelas coisas que eu deixei sem terminar e todas as dívidas que ficaram pendentes, me sinto como um aleijado sem muletas. Sempre pau-prá-toda-obra, mas nunca mestre de alguém. Também havia meu pai, sempre olhando as coisas pelo lado bom, dizendo coisas como: “Filho, a vida não é tão dura assim.” Ele era um grande otimista, eu... o mais miserável pessimista do mundo. Devo ter puxado minha mãe... e tudo que eu amei e temi, de uma só vez, desapareceu.
Mas já estou cansado de vagar por estas ruínas, não a nada que tenha sobrevivido ou que se sustente em pé. Sento-me por um pouco de tempo no que sobrou do velho píer para descansar e olhar o mar calmo e o céu acinzentado, pois a cores caíram do céu, montanhas foram meramente removidas da terra e prata e ouro perderam todo seu valor.
Atrás de mim existe apenas o reflexo do que havia em muitos corações que até então existiam: devastação. Se estivessem aqui deveriam se orgulhar, pois nada foi tão fiel a imagem e semelhança do homem. Bombardearam. Bombardearam tudo que foi possível. Talvez a missão fosse essa mesmo, atingir o ultimo estágio da perfeição: reduzir o homem inacabado ao nada – já que o contato permanente com o presente levou muitos de nós ao terrível desespero metafísico. Na verdade tudo sempre esteve destruído há muito tempo, as bombas foram apenas para não deixar dúvidas... e tudo que eu amei e temi, de uma só vez, desapareceu.
Então eu acordei deste sonho coberto por um suor frio, cheio de dúvidas e um profundo pesar. Por um instante tudo estava bem claro pra mim, não resta mais nada em que acreditar... e tudo que eu amei e temi, de uma só vez, desapareceu.

Filipe Lemos.