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sexta-feira, 30 de março de 2012

Os novos desafios no estímulo à leitura e à escrita.

Por Efraim Oscar Silva

Professora da UFSCar fala como se pode contribuir para esse aspecto da formação de crianças e jovens.


    Além de lecionar na UFSCar, a Professora Doutora Maria Sílvia Cintra Martins, do Departamento de Letras, orienta o PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) - UFSCar Letras, na E.M.E.B. Professora Dalila Galli, em São Carlos. Esse trabalho, feito conjuntamente por professores e alunos da Universidade e pela comunidade escolar, desenvolve ações de leitura e escrita entre as crianças e pré-adolescentes. Um dos resultados é o Jornal do Dalila, distribuído na Escola e já na segunda edição.


FIM DE NOITE - A senhora contribui para a formação de futuros professores nos cursos de graduação da UFSCar. Como vê essa nova
geração de graduandos, principalmente das licenciaturas? O que se pode esperar dela?

          De um modo geral repito – na linha de certa fala de Clarice Lispector – que o importante pela vida afora são os sonhos que nos movem na juventude. Nesse sentido, o que posso esperar da juventude – esperar no sentido de ter esperanças, de alimentar utopias – o que posso esperar é que sonhem, dentro do grande lema pessoano de que “tudo vale a pena, se a alma não é pequena...”

FIM DE NOITE - Como se pode estimular uma criança ou um adolescente a ter mais intimidade com o ato de ler e escrever? O que se pode fazer para que o aluno se dedique à leitura e à escrita de forma natural e prazerosa?

          Parece-me que o principal mesmo é a atitude do professor em termos da visibilidade que transmite sobre seu compromisso com a leitura, a forma com que transpira, não apenas um certo amor piegas pelos livros (pois isso pode, inadvertidamente, adquirir um teor moralista no sentido perverso do termo), mas uma curiosidade genuína pelo desvendamento do mundo e das palavras, ou da palavramundo, como diria Freire. Em certo sentido, mais importante que o amor pela leitura dos livros, é o amor pela leitura do mundo, pela escuta das palavras alheias, pela reflexão, pela dúvida. É isso, assim acredito, esse tipo de postura do professor diante do mundo e das palavras que pode genuinamente motivar nos alunos o gosto pela leitura. Já sobre a escrita (pois leitura e escrita são dois processos diferentes que se encontram aqui e ali), o importante é permitir que ela desabroche, criar oportunidades para que as pessoas sintam vontade de escrever movidas por sentimentos, e que, com isso, vão adquirindo a familiaridade com as palavras.


FIM DE NOITE - Fale-nos sobre a sua participação e de seus orientandos no PIBID desenvolvido na Escola Municipal Professora Dalila Galli. Quais são os desafios enfrentados por vocês?

          Talvez o principal desafio seja aquele de aprender a escutar, de aprender a não subestimar o trabalho alheio, de aprender que na esfera acadêmica enfrentamos certos desafios e, no ambiente escolar, os professores e alunos enfrentam outros desafios, de modo que se faz necessário muito respeito e muito silêncio, de forma a que não queiramos transportar, afoitamente, assim que atravessamos o portão de uma escola, certas visões a que nos acostumamos na convivência universitária, ou mesmo certa presunção supostamente erudita, superior ou infalível.

FIM DE NOITE - Uma das dificuldades que sentimos como estudantes da UFSCar é que, talvez em virtude do tamanho do campus de São Carlos e do grande número de cursos, há uma “invisibilidade” do conjunto da produção acadêmica. De que forma se poderia superar esse problema?

          O sistema da INFOREDE tem contribuído bastante para a divulgação dos diversos cursos e eventos que se dão no campus de São Carlos, e mesmo nos outros campi. Há, no entanto, muitos alunos que não possuem seu cadastramento no sistema de e-mails da polvo, que nem sabem que isso existe. Outra forma de acesso à produção acadêmica seria a frequência mais assídua à Biblioteca Comunitária, que além de um acervo significativo, possui também o serviço de “empréstimo entre bibliotecas”. O fato é que, sempre que vou à BCo, a impressão que tenho é que, proporcionalmente ao tamanho de nossa comunidade acadêmica, ela sempre se encontra relativamente vazia.

FIM DE NOITE - Se a sua casa fosse tomada de repente, como acontece às personagens do conto “A casa tomada”, de Júlio Cortázar, e a senhora só pudesse levar um livro - um só - da sua biblioteca, qual a senhora levaria e por quê?

          Agora você me pegou, hein? Será que eu não poderia sair sem nenhum livro? Só lamentaria, é claro, que não tivesse havido tempo para eu doar todos os meus livros a uma biblioteca pública antes que a casa fosse tomada, pois assim aqueles volumes se tornariam acessíveis a todos, e não só a mim... Eu não me sentiria bem, de resto, assim, agarrada a um único livro.

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