Páginas

sexta-feira, 30 de março de 2012

Analândia

Cuidado. Você pode não achar a saída.
A partir daqui não há volta.
Seja bem vindo à Analândia.


Analândia

     Sob este universo e a lei de Descartes está Analândia: vilarejo com aproximadamente 8.088 parasitas, 0880 fungos, 80 e tantos pensamento indesejados e uma analandense: Ana.
     Ana era estranha, e disso até ela sabia. Tudo em Analândia era redondo... Por que ela era reta? Ela fazia seu melhor; seu vestido já gasto parecia um enorme balão colorido, seu cabelo – contra a ditadura dos caracóis – estava sempre arrumado em dois enormes coques. Coitadinha, por mais que ela tentasse, seu corpo magricela era comprido e nem mesmo na hora de dormir uma conchinha ele fazia. Mas Ana tentava.
     Ana gritava. Era a única coisa que sabia fazer. Gritava, gritava, gritava e gritava até raiar o dia, e depois gritava mais ainda. Ela tentava fazer suas ondas sonoras, como que sabão, formarem lindas bolhas; tudo o que conseguia eram formas geométricas mais que tortas. Porém um dia tudo mudaria. Um certo passarinho, atingido por um quase polígono, caiu sobre ela.
     Com a asa quebrada o passarinho, que agora Ana cuidava, para ela cantava. Por sua causa tudo em Analândia se transformara, tudo se invertera. Ana vestia tubinho, seus cabelos ganharam channel. Ela tinha o contrário e até mesmo seu nome se acostumara a ele. Seus lábios, que antes formavam a tentativa de um “O” agora estavam selados e alinhados.
     Ali: som, vindo diretamente da gaiola, uma melodia perfeita. Ana amava ouvir, Ana amava ver, Ana amava ter; mas ele precisava de respirar, precisava de ar, precisava voar. Foi para evitar outra morte mais que sofrida que uma portinhola se abriu, um assovio de ar se ouviu, uma pena caiu.
     Analândia: 8.089 parasitas, 0881 fungos, 80 e tantos pensamentos indesejados e uma analandense: Ana.
     Analândia, Ana e Ana, Ana morta, Ana anda. Ana.
     Porque no céu doía menos. Porque só Ana doía menos. Porque doía menos acertar do que aprender errando. Agora ela sabia. Agora ela entendia. Agora seu mundo era reto e quieto.

Shhhhhhhhhhhh ...


Ana Esther

Nenhum comentário:

Postar um comentário